A LIDA DE UM POETA
A língua portuguesa, salvo melhor juízo, a meu ver é a mais bonita, ainda que bastante complexa. São poucos os catedráticos de literatura com um vocabulário pronto e afinado superior em trinta mil palavras, seus significados, sinônimos e variações.
Hoje escolhi falar de uma palavra pequenina, somente quatro letras, mas que tem significados de extrema relevância na nossa vida, talvez na vida de todos os brasileiros.
LIDA
Primeiro: Trata-se de um substantivo feminino que é sinônimo de labor, trabalho, afazer diário. Segundo: Ação ou efeito de lidar. Terceiro: Terceira pessoa do presente do indicativo do verbo lidar (ele lida). Quarto: Primeira pessoa do imperativo afirmativo do verbo lidar (tu lida). Quinta: Ato de ler rapidamente e resumido um determinado texto. (O juiz deu uma lida no discurso do promotor).
Após estas ponderações penso que é o momento de falarmos de poesia, vez que a lida principal de um poeta é poetar, seja verbal ou oralmente.
Eu, um poeta iniciante, me esforço muito ainda engatinhando como aprendiz da arte de poetar e induzir as pessoas com palavras sábias, doces e carinhosas para coisas e pessoas amargas, azedas e tristes, ás vezes sem a menor sensibilidade e sem qualquer gesto de amor e de afeto.
Falar de amor verbalmente é relativamente fácil, pois a rigor estamos a sós, num ambiente restrito com canetas e papéis de rascunhos nas mãos ou então em frente a um computador de última geração. Ninguém está nos vigiando para criticar o nosso trabalho, a nossa escrita ou mesmo para elogiar só pra agradar, sem a mínima vontade de fazê-lo.
Agora, para poetar oralmente, muitas vezes diante de uma platéia enorme, o poeta precisa ser bom de verdade. Preliminarmente precisa ter uma ótima postura de voz, com dicção e entonação perfeitas. Se apresentar com elegância, decentemente vestido e com mente e coração aberto para censuras. É difícil agradar gregos e troianos. Saber lidar não só com os aplausos, mas também com as tradicionais vaias. O poeta orador ou declamador precisa sempre olhar para tudo e para todos com ar de amigo e de alegria, nunca com feições de aborrecimentos e rancor.
Centenas de vezes já ouvimos alguém falar: “Poeta é bobo. Acredita em tudo, até no amor”. É sonhador ou louco. São poucos os lugares e instituições que entendem e acolhem um poeta com humanidade e respeito, principalmente se for negro e pobre. Claro, não é o meu caso. Deus foi e é generoso para comigo. Os caros amigos e leitores perceberam que a arte de poetar não é tão fácil como aparenta, mas, para nós os poetas é simplesmente gratificante. Poetar é a nossa lida diuturna. Afinal, através da poesia nós aprendemos muito, angariamos um universo de amigos, inclusive estudamos e pesquisamos com cuidado e afinco,
CLEMENTINO, poeta e músico
De São Sebastião – SP/BR.