A MENINA
Ela queria ser feliz. Apenas isso. Mas como? Como alguém pode ser ou estar feliz estando só? Absolutamente só. No intuito de ajudá-la a convidei parar sair, passear e dançar. Em vão o meu convite. O mundo e a vida ao seu redor simplesmente não existia.
Lembrei-me então de alguns momentos da vida em que estive em situação idêntica. Tudo desapareceu. As minhas divagações tomaram caminhos estranhos e distantes. Perdi o comando e sequer via a linha do horizonte mesmo com os olhos ultra abertos fixados em algum ponto.
O que poderia te fazer feliz neste momento, menina?
- Menina? Tu me chamaste de menina? Por quê? Eu tenho feições de menina? Já tenho mais de quarenta anos...
- Sim. Chamei-te de menina. És e será sempre uma menina aos olhos de Deus e também os meus. O espírito nunca envelhece na mesma proporção do corpo. Conheci crianças na mais tenra idade física com mais de quatro mil anos de existência, bem como alguns anciões que espiritualmente ainda estão engatinhando. Por isso sei que só as crianças sofrem por conta da solidão e do desamor.
- Tu já conseguiste me fazer feliz e voltar à vida. Nunca alguém me chamou com elegância e carinho tratando-me como uma menina embora sendo uma mulher. Vamos sair passear e dançar?