LÁGRIMAS
Lágrimas. Muitas lágrimas. Ali todos choravam comovidos. Ela chorava muito mais. Passara a madrugada em prantos num desolamento só.
As caixas de lenços descartáveis estavam vazias. Entretanto ela ainda não tinha chorado nem um décimo do que ainda viria chorar no decorrer dos dias que seguiriam. Mas afinal, chorar por que e para que? Porque estava só, por um dissabor, por uma desilusão à toa?
Não. Ela chorava com sentimento pelo motivo mais doloroso da vida de um ser. Olhava ao seu redor e estava apinhado de gente. Mas era como se estivesse absolutamente sozinha. Um turbilhão de sentimentos desencontrados, bons e ruins povoava o seu pensamento.
Olhava para cima buscando algo que não existia e que não vinha. Nem a belíssima imagem do céu azul anil contrastando inteiramente com o sol quase alaranjado se recolhendo no horizonte a animava.
Na verdade os seus olhos já avermelhados de tanto chorar estavam por demais embargados, incapazes de enxergar ou observar às belezas dos fenômenos da natureza.
Ah! O entardecer de verão se findava com o tradicional cântico da Ave Maria naquela pacata cidade. Uns permaneciam calados; outros oravam mentalmente apenas elevando os olhos para algum lugar no infinito e uma grande parte dos presentes naquele instante apenas abaixava a cabeça para não ver o desfecho da sena triste que inevitavelmente viria.
Porém ela chorava copiosamente. O seu bem amado estava ali inerte, pronto para a qualquer momento ser conduzido ao sepulcro, sua nova morada, destino certo e quase sempre igual ao de todos nós frágeis mortais.