SONHANDO
Sim. Durante horas intermináveis permaneci calado, apenas e simplesmente observando, admirado com tanta beleza. Era como se a imagem da mais pura deusa estivesse se desligando e saindo de dentro de uma tela, onde o artista não economizou talento e detalhes mil. O seu gingado e caminhar compassado, mas distante de tudo ao seu redor, absolutamente dispersa, me enchia os olhos que lagrimejavam de contentamento. Assim, quase que embaçados, a seguiam em todos os movimentos de certa forma até cadenciados, como se estivesse indo e vindo, mas sem nunca chegar tão perto o quanto eu queria. Esse ritual era intermitente. Até que aquela beldade aproximou-se de uma só vez e colou seu rosto ao meu, beijando-me na boca longamente. Em vão, sem forças e muito menos condições de apertar aquele corpo com os meus próprios braços, o vi distanciar-se nas nuvens, quando então me dei conta de que sonhava. Com todo o corpo ensopado de suor eu olhava atônito para os móveis do quarto na penumbra com as roupas de cama arrastando no piso de cerâmica. Murmurei um tanto triste: Quem sabe se eu dormir novamente consiga retomar o mesmo sonho no ponto em que foi bruscamente interrompido. Vamos dormir querida?
CLEMENTINO POETA E MÚSICO
Enviado por CLEMENTINO POETA E MÚSICO em 24/11/2013
Alterado em 24/11/2013