ACONCHEGO SEM FIM
Os meus olhos bem abertos espreitavam aquela silueta se locomovendo lentamente na penumbra, vindo na minha direção.
A fraca iluminação azulada do ambiente contrastava com a claridade do sol externamente e quase me embargavam a visão.
Mas pouco importava-nos se era noite ou dia, se estava claro ou escuro, vez que ambos sabíamos o que ali buscava.
Estanquei-me num canto e aguardei com calma aquela bela criatura de cabelos longos e loiros que se aproximava gingando as ancas maliciosamente.
Aquela provocação fazia parte da sedução e estímulo ao mais puro encontro de dois seres que se amam e que sentem prazer na conjunção carnal.
Tudo o que precisávamos era encostar um corpo no outro para a chama se ascender naturalmente. E foi o que aconteceu numa fração de segundos.
Dali em diante somente os sussurros quase uivos que imitíamos indicavam a nossa presença no aconchego sem fim.
Exauridos sem consciência de quanto tempo ali ficamos adormecemos grudados um no outro como uma simbiose até reiniciarmos um coito final.
E assim o tempo passou. Hoje notamos que há mais de trinta anos fazemos a mesma coisa, ainda que com menos intensidade e freqüência.