FUI...
Eu chorava e mal dizia a vida por sentir-me só e infeliz diante de tantas flores murchando ao meu redor.
Resmungava hipoteticamente achando que alguém me ouviria e daria trela às minhas lamúrias infundadas.
Num ímpeto abobalhado aumentei o tom de voz, como fazem alguns religiosos que acham que Deus é Surdo.
Com isso a única coisa que conseguia era espantar até as borboletas que ainda pousavam displicentemente nas flores, como a me provocar.
Era como se o jardim não existisse, uma vez que eu só via folhas secas e mortas.
Ora! Ora! Ainda havia muitas flores viçosas que os meus olhos não conseguiam ver, tamanho era a minha desilusão e descuido.
É! A flor que eu queria e precisava ver ali não estava. Todavia isso não justifica entregar-se ao léu
Naquele momento o tempo em nada colaborava comigo, pois insistia em não passar.
Parecia que eu ali estava há séculos, quando na realidade mal acabara de chegar.
Um sabiá laranjeira quebrou o silêncio com seu canto feliz, prenunciando que era tempo de me animar.
Ah! Bendito sejam os pássaros que sempre tem motivos para gorjear, mesmo que tristes.
E nós pobres mortais choramos até o leite que não foi derramado.
Fazemos dramas quando o momento é para comemorar uma vida nova ou uma nova canção.
Naquele instante lembrei-me das palavras sábias do meu amor quando disse que se a flor que amamos não está num jardim provavelmente nos espera em outro.
Diria o mais jovem: FUIIIIIIIIIIII.