O GRANDE AMIGO
Eu resolvi curtir uma rede instalada na varanda da minha casa de campo nova que havia adquirido recentemente.
Naquele balanço constante pra lá e pra cá adormeci tranquilo. Mal peguei no sono abriu-se uma grande cortina e começaram a desfilar aos meus olhos muitos momentos da minha vida.
Eu estava quase nu, perambulando em um bairro e por ruas desconhecidas. Caía uma garoa fina já dentro da noite escura como breu. O frio era de matar até pinguim. Coisa de dez graus Celso negativa. Meus lábios já estavam rachando de tanta dor e o meu estômago doía de tanta fome.
Eis que de repente um homem de estatura mediana, boa aparência e com uma voz branda e educada me falou:
- Venha até aqui perto de mim que vou te agasalhar e te dar algum alimento para matar a sua fome.
Aproximei-me e ele me estendeu as mãos com agasalhos de lã, meias, cachecol, boina de pelúcia, sapatos de camurça e mandou que eu entrasse com ele em uma caverna ali bem pertinho. Já no interior falou para que eu sentasse à mesa e como num passe de mágica serviu um verdadeiro banquete. Uma sopa bem quente de legumes; depois um pão enorme com manteiga e queijos de vários tipos; um bolo salgado de cenouras; frutas em abundância e tudo o mais que um cidadão possa ter direito. Comi até regalar-me.
Em outro momento, numa situação muito diferente eu era um negro que fugia desesperadamente das garras dos capangas e capataz do dono da fazenda onde ali eu era escravo. Minhas pernas já não aguentavam mais nada quando tropecei em um tronco e rolei pirambeira abaixo até a beira de uma poça de lama.
Os asseclas do meu dono me cercaram e rindo sem compaixão ou piedade amordaçaram-me e me puseram nu no lombo de um cavalo, levando-me até uma mina desativada. Lá me jogaram no chão debaixo de chicotadas que lanhavam toda minhas costas. Amarraram-me a uma corrente grosa em barra de ferro cravada nas rochas. E o capataz com ar de satisfação me falou:
- Fica aí negro safado. Quero ver você fugir agora. Pode comer a vontade todos os ratos, aranhas e baratas que encontrar. Isto, se os bichos não te comerem primeiro.
E com uma gargalhada escomunal todos saíram da mina. Não sei quanto tempo permaneci naquela escuridão. Dormi acorrentado.
Abri os olhos e vi aquele mesmo senhor lavando e passando uma pomada suave nas minhas feridas. Depois me lavou o rosto, os cabelos e todo o meu corpo. Saiu por uns vinte minutos e voltou coma enorme tesoura com a qual cortou as correntes me soltando.
Fiquei impressionado, pois reconhecia aquele homem que já havia me salvado da situação anterior. Ele me aparecia muito nítido. Aquela cútis rosada, de barbas feitas, traços perfeitos me salvara pela segunda vez. Só uma dúvida me bailava a mente. Por que eu era negro?
Impressionado com ambos os sonhos levantei e recostei-me quase sentado na mesma rede e naquele balanço macio fechei os olhos e novamente comecei nova aventura.
Estávamos viajando, eu, a minha esposa, os meus filhos e um grupo de amigos. Íamos a passeio de férias para a Flórida nos Estados Unidos. Quando o comandante da aeronave avisou para que apertássemos os cintos, pois dentro de alguns minutos estaríamos pousando ouvimos uma tremenda explosão e me vi, juntamente com todos que estavam naquele vôo despencando de uma altura a mais de dez mil pés.
O pânico era geral. Muitos corpos caindo em cima do outro, parte da aeronave pegando fogo e uma gritaria medonha. De repente ouvi as sirenes dos bombeiros e das ambulâncias chegando e um povo correndo de um lado para o outro a fim de nos acudir.
Eu não tinha forças para gritar. Não sei por quanto tempo fiquei no meio da fuselagem do avião com os braços, pernas e todo corpo sangrando com uma dor insuportável que atingia minhas entranhas.
E mais uma vez aquele meu simpático protetor apareceu e me pegou em seu colo. Abraçou-me pedindo para que eu tivesse paciência e calma que tudo iria dar certo. Colocou-me nos seus ombros e levou-me até uma ambulância.
Conversou calmamente com as pessoas que chefiavam aquela viatura e operação de resgate e em seguida me colocou na maca com todas as recomendações.
Passados uns dois meses em que eu estive internado o médico veio me avisar que no dia seguinte eu teria alta. Porém me recomendava muita paciência, calma e fé em Deus, pois os meus entes queridos e amigos não sobreviveram.
Foi um choque terrível. Pensava comigo que teria sido melhor se eu fosse um dos mortos. Chorei o dia inteiro. A noite parecia que tinha trezentas horas, pois não passava.
Ah! Que angústia. Quando o sol já despontava consegui cochilar. Daí o grande susto.
Na minha frente estava aquele amigo benfeitor todo ensangüentado, com uma coroa de espinhos cravados na sua cabeça, carregando uma enorme cruz, coisa de uns quinhentos quilos
Com a mesma tranquilidade e calma apenas orava de uma forma que eu podia claramente escutar:
“Pai Misericordioso obrigado por me submeter a tantos sacrifícios. Os meus irmãozinhos queridos daqui da Terra ainda não estão em condições de entender por que precisamos passar por essas provações. Carregarei essa cruz por tanto tempo quanto for necessário”.
Que a paz desse irmão aqui presente querendo me ajudar e retribuir o meu amor seja duradoura e constante. “Certamente esse grande amigo vai nos ajudar a distribuir amor e paz ao mundo”.
Corri até chegar bem perto daquele homem e quando olhei bem o seu rosto e olhos descobri de onde eu o conhecia.
Era nada mais nada menos do que o Melhor amigo de todo ser humano. Aliás, não era. É aquele único Grande Amigo que há mais de dois mil anos continua nos amando e nos protegendo.
Preciso repetir o nome desse Grande Amigo? Então vou repetir para você caro amigo leitor que ainda não sabe: “JESUS”.