TODO DIA É DIA DE PERDÃO
Oh! Minha querida. Bom dia, boa tarde, boa noite e boa sorte sempre. Falar da minha saudade e desta solidão atroz é apenas lugar comum. Diríamos “Chover no molhado”. Todos os solitários o fazem. Dizer do quanto a tua ausência me maltrata é simplesmente mais uma lamúria. Manifestamente inócua e em vão. Certamente por ser improdutiva e não nos levar a lugar nenhum.
Entretanto, cada hora, cada minuto, cada segundo que se passam parece uma eternidade e muito me atordoa. Daí o porquê destas linhas escritas quase sem pé nem cabeça, tal o embaralhado que nos vem à mente. É complicado conciliar o pensamento que não seja uma rogativa insistente pela tua volta urgente, sabendo que seria quase impossível.
A minha alto-confiança, nada mais que um orgulho idiota, induziu-me ao erro. No auge da nossa união senti-me o dono da verdade e do mundo. Achei que a tua paciência era inesgotável.
Um terrível engano.
E agora minha querida, o que esse pobre pecador confesso pode fazer para redimir-se e obter o teu perdão?
Pode ser que seja tarde demais para uma possível e eventual reconciliação. No entanto ouso te dizer que todo dia e toda hora é dia e hora de perdão.
Basta que o coração daquele credor que vai perdoar esteja aberto e psicologicamente preparado para tal. Uma pitada de amor e compreensão não faz mal a ninguém.
Enquanto que para mim que pequei e errei, resta a causticante tarefa de esperar por tempo indefinido, bem como a conformação se esta missiva não lograr êxito.
Nota:
Não obstante somente hoje esteja publicando essa carta, a escrevi em 12 de junho de 1964. Fácil entender o porquê, não acham?