POETA INSTANTÂNEO
Ah! Ah! Ah! Ah! Elevei a tonalidade da voz e inventei versos esdrúxulos convicto de que agradava.
Enchi-me de razão e me pus a poetar como se um poeta fosse.
Queria mostrar-me esclarecido, culto e romântico àquela que decidira tomar por minha companheira.
Aleatoriamente falei do amor demais, dos momentos muitos, dos encantos da brisa, dos cantos gregorianos, das valsas dos nossos ancestrais, das canções e dos filmes de amor, dos pássaros, das borboletas e da natureza.
Falei também de uma vida feliz, sem ranhuras nos nossos relacionamentos; lembrei da paz de uma criança dormindo, de um carneiro pastando tranqüilo sob os cuidados do seu pastor.
Assim desfilei um mundo de ilusões felizes.
Em nenhum momento lembrei que todo mar de rosas é fictício uma vez que as rosas só sobrevivem nos seus respectivos galhos os quais são cheios de espinhos.
Mas um bom poeta que se preze sabe muito bem que se o amor existe, com ele existem os momentos felizes. E nisso me apeguei para elencar e desfilar muitos outros versos que nem sempre rimavam.
Por isso, ao término do meu versejar agradeci os presentes e beijei a minha amada na certeza de que a minha criação poética atingira o seu objetivo.
Afinal, a vida é para se viver, o nosso bem é para se amar e todo ser adora ser amado.