VAZÃO AOS SENTIDOS.
Suava frio num espaço onde o calor superava os trinta e cinco graus centígrados.
Sentia frio num local onde os raios do sol lambiam e varriam o ambiente.
Sentia tremores e vertigens como se estivesse infectado por doenças como maleita, malária ou outra qualquer.
Não. Não era doença alguma. Também não era frescura.
Era um misto de medo, insegurança e desconforto natural de quem vai beijar e amar pela primeira vez.
Assim estava aquele ser. Como um camaleão chegava a mudar de cor, suando por todos os poros.
A cada segundo que se passava mais se desesperava, e, como um espectro girava o corpo em todas as direções tentando um ponto firme e seguro para apoiar-se sem lograr êxito.
Eis que surge à sua frente aquela que esperava, pondo fim à angústia. Veio pronta e disposta a entregar-se de corpo e alma conforme antes previamente combinado.
Instintivamente, numa fração de segundo, com os olhos esbugalhados e nublados sem nada enxergar, limitou-se a abraçar e trazer para junto do seu corpo aquele corpo quase desnudo com um rosto que lhe sorria e se entregava por inteiro como uma presa abatida se entrega ao caçador, sem pronunciar uma única palavra inteligível.
Dali em diante o que se ouvia então eram apenas uma sequência de murmúrios, sussurros e até uns urros quase animalescos, próprio de momentos de copulação e união das carnes.
Foram-se as vertigens, o frio e o medo, dando vazão a tudo o que em ambos ainda estavam no estado latente, agora traduzido no amor e na vida.