BOM DIA, BOA TARDE, BOA NOITE E BOA SORTE. QUE DEUS NA SUA INFINITA BONDADE NOS ILUMINE HOJE E SEMPRE.
CLEMENTINO, poeta e músico de São Sebastião-SP
Paraíso dos poemas e canções de um poeta e músico caiçara
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Textos
 



O GATINHO FEIO E A PREGUIÇA ZUNZUM




 
 

 
Em um sítio no litoral norte de São Paulo, um casal possuía um casal de gatos.
Os gatossão animais carnívoros que gostam de peixes, de pequenos roedores, de crustáceos e de aves.
Eles gostam de água, tanto para beber como para banhar-se e naquele paraíso, os gatos brincam e caçam livres pelas matas, árvores, pedras e rios.
Da última ninhada, nasceram três machos e duas fêmeas, da raça Angorá. Quatro eram normais e fisicamente perfeitos, lindos, peludos e fofinhos, mas o último a nascer era totalmente diferente: muito feio. Ele era de uma cor incomum: marrom meio avermelhado, com listras pretas e cinza, uma orelha menor do que a outra e tinha também a pata traseira esquerda cinco centímetros menor que a direita, o rabo mais curto do que o normal e um olho torto.
Todos curtiam os gatinhos saudáveis, porém quase não chegavam perto do gatinho deformado e feio.Somente a mamãe gata se preocupava com seu filhote deficiente. Ela dava mama em separado, lambia carinhosamente seu pelo fino e sempre o carregava preso aos dentes, levando-o com os outros filhotes para qualquer lugar que fosse.
Assim os bichinhos cresceram normais e bonitos, porém o pequeno deformado cada vez mais feio, pois não cresceu fisicamente. Mesmo com os defeitos das patas e muitas dificuldades, ele subia em árvores. Enquanto os demais subiam numa árvore de dez metros de altura em três ou quatro minutos ele levava em média meia hora para subir.
O tempo foi passando, os donos da propriedade cada vez mais felizes com o sítio bem cuidado, bem como seus gatos e cachorros.
Os moradores do sítio nomeavam cada animal com nome e número, de acordo com a data do nascimento para facilitar as atividades, principalmente para levar ao veterinário. O gatinho feio era o de número vinte e dois e chamava-se Preferido. Seu nome era em função da atenção e dedicação da mamãe gata em relação a ele.
Na divisa do quintal da propriedade, havia uma colônia de bichos preguiças. Eram mais ou menos uns trinta entre machos e fêmeas. Eles subiam e desciam das umbaubeiras e caxeteiras que existiam muitos naquela região. O broto da umbaúba é a alimentação favorita dos bichos preguiças, pois eles gostam muito de suas folhas novas e tenras.
Em uma bela manhã de verão, os gatinhos começaram suas brincadeiras diárias e os mais velhos e fortes subiram rapidamenteem uma das árvores. Preferido animado resolveu acompanhar seus irmãos e começou a subida também. Devagarzinho foi subindo, subindo, até que depois de meia hora, estava na copa da árvore bem alta, cerca de quinze metros de altura.
Acontece que tendo ele demorado muito para subir os seus irmãos já tinham descido e mudado de árvore várias vezes. Ele olhou para baixoe assustou-se. Tudo parecia pequenino. Ele não viu nenhum dos seus irmãos por perto e nem em baixo. O bichinho debilitado e assustado entrou em pânico. O que ia fazer ali sozinho? Como não restava nada a fazer, começou a miar, pedindo socorro, porém seu miado era tão baixo que ninguém o ouvia. Nem sua mamãe gata que tinha o ouvido bem apurado.
As horas foram passando e o gatinho miando baixinho, já quase sem fôlego, com fome e sede. Já passava do meio dia, quando ele ouviu uma voz também baixinha o chamando:
- Hei gatinho, por que você está sozinho aí tão alto? O que estás fazendo?
Preferido olhou por todos os lados e não viu nada. De quem seria aquela voz? De algum humano? Tremendo de medo e assustado, se encolheu onde estava e ouviu a mesma voz:
- Hei gatinho, você não precisa ter medo de mim. Sou um bicho preguiça e não vou te fazer mal. É que eu sei falar a língua de todos os animais, principalmente dos bichanos. Desce daí e vem brincar comigo. Eu estou sozinho.
Preferido esticou o pescoço ainda com medo e viu no tronco de uma umbaubeira, a pequena preguiça, subindo devagar. Notando que a preguiça era bem mais lenta do que ele para subir e percebendo que também era inofensiva perguntou:
- Você está sozinha? Como é o seu nome?
E o bicho preguiça respondeu:
- Eu sou um filhote macho de bicho preguiça. Estou sozinho sim. Eu não tenho nenhum nome de gente. Mamãe e papai me apelidaram de Zunzum, só porque emito um som diferente com a garganta, como o zunzum das abelhas quando estou brincando ou subindo em alguma árvore de tronco muito grosso, fazendo muito esforço.
Assim falando, Zunzum convidou Preferido para brincarem no chão.
Já mais confiante e sem medo, Preferido começou a descida lentamente, agarrando-se com cuidado aos galhos. Mesmo sendo muito lento ele chegou ao chão meia hora antes da ZUNZUM.
Já passava das quatro horas da tarde e os dois bichinhos iniciaram uma conversa para se conhecerem melhor. Zunzum perguntou ao seu novo amigo:
- Você tem um nome? Como é? Os humanos sempre colocam nomesem seus animais.
- O meu nome é Preferido e o meu número é vinte e dois.  O meu pai é o número um, minha mãe o número dois, os meus irmãos mais velhos são do número três ao vinte e um.
Feliz da vida por ter encontrado um amiguinho, mesmo sendo de outra espécie Zunzum falou:
- Preferido eu trouxe lá de cima um pouco de brotinhos de Umbaúba. É tão gostoso. Você quer um? Você comeu alguma coisa? Já se alimentou? Se quiser vou pedir pra mamãe dar um pouco de leite pra você também quando eu estiver mamando, pois mamãe tem bastante leite e é muito saboroso.
Sem medo, mas sentindo vergonha Preferido perguntou:
- Mas será que a sua mamãe não vai achar ruim? Será que ela concordaria em dar mama para outro bicho? E os seus irmãos e o seu pai, não vão ficar bravos e me expulsar daqui?
Zunzum explicou:
- Não tenho irmãos. No oco desta umbaubeira moramos eu, o meu pai e a minha mãe. Sou filho único, depois que o gavião levou os meus dois irmãos. Então, trate de tomar muito cuidado, não se expondo em lugar descampado e sem proteção, porque aqui tem muitos gaviões. Eles vêm com toda força e nos levam.
- Durante o dia, com o sol quente como está hoje e sem vento os gaviões não nos atacam, mas à tarde com o sol se pondo eles vêm procurar comida e catam todos os animaizinhos pequenos que encontram desprotegidos, assim como nós, as lebres, os coelhos, os preás, os porquinhos da índia e também os pássaros ou seus filhotes no ninho.
Então Preferido perguntou:
-   Nossa! De que tamanho é esse tal gavião? É tão grande que consegue levar nas suas garras um animal do meu tamanho?
Zunzumfalou para Preferido:
- Vamos pra dentro de casa. Acho que a mamãe e o papai já estão voltando. Mamãe fica preocupada se eu estou brincando do lado de fora neste horário do dia.
Os pais de Zunzum voltaram e conheceram Preferido. A mamãe preguiça era muito amorosa e falou pro filhotinho:
- Vem mamar pra dormir Zunzum. Traga seu amiguinho pra mamar também. Não precisa ficar envergonhado,Preferido. Eu tenho bastante leite que dá pra vocês dois.
Morrendo de fome, pois até àquela hora não tinha comido e nem bebido nada a não ser dois brotinhos de umbaúba, que não gostou tanto e lembrou que sua mamãe gata sempre guardava um pedaço de peixe ou de carne para ele.
Preferido aceitou o convite e em poucos minutos estava mamando na preguiça ao lado do seu amigo. Mamaram até se fartarem e ali mesmo dormiram enrolados um no outro sem o menor constrangimento.
No sítio todos se preocuparam com a ausência do Preferido. A noite de lua nova estava muito escura e todos os empregados procuraram o gatinho por toda parte. Com lanternas potentes vasculharam tudo sem encontrar o bichano. A mamãe gata subiu no telhado e ficou a noite inteira rosnando e miando como a chamar, a procura do filhotinho.
Amanheceu. O dia estava bonito, bem ensolarado. Uma brisa leve trazia um frescor e o olor da floresta. A mamãe preguiça chamou novamente seu filhote para tomar seu leite de desjejum, e claro, convidou também seu amiguinho, Preferido.
Terminado de amamentar suas crianças, mamãe e papai preguiça saíram para os seus afazeres diários, deixando as mesmas recomendações de todos os dias.
- Tomem muito cuidado crianças. Não se distanciem de casa e nem fiquem em lugar descampado e desprotegido. Nós estaremos por perto, mas é bom se cuidarem.
Dito isto saíram e deixaram os dois amigos, um em companhia do outro.
Na sede do sítio, todos se puseramem pé, assim que clareou o dia e saíram à procura do gatinho. Pelas três horas da tarde voltaram exaustos, sem êxito. Somente a mamãe gata não desistiu da busca. Ela andava, subia nas árvores, miava e rosnava o tempo todo chamando sem parar, seu filhote.
Bem perto dali, Zunzum e Preferido brincavam despreocupados, à beira de um regato.Zunzum subiu em uma aroeira, preferida dos sabiáse catava as frutinhas vermelhas para comer.
Vez ou outra Zunzum catava um inseto no ar ou achava um brotinho de aroeira. Logo abaixo, Preferido pescava uns lambaris, a seu modo, meio desajeitado e já havia conseguido pescar meia dúzia deles e estava de bucho cheio.
Felizes não viram o tempo passar e nem perceberam a brisa suave que soprava, enquanto o sol se punha.
Lembrando que os pais de Zunzum estavam por chegar, Preferido pensou que seus pais gatos estariam preocupados com sua ausência, pois ele já estava fora de casa há quase dois dias e dormira fora de casa, o que nunca havia feito antes. Porém, como estava perdido e não sabia como voltar para o sítio falou pro seu amigo:
- Zunzum eu vou subir nesta árvore grande pra ver se enxergo a casa dos meus donos e os meus pais. Depois eu desço e nós vamos voltar pra sua casa, está bem?
Preferido começou a subida e passados alguns minutos, quando já estava quase no topo da árvore, ele começou a miar, pois viu sua mãe rondando o oco da umbaubeira onde o seu amigo morava. Ele miou o mais forte que podia para chamar sua mãe, dizendo:
- Hei, eu estou aqui.
A mamãe gata ouviu e miou mais forte ainda, dizendo:
- Desce daí, Preferido. Vamos pra casa. Lá estão todos preocupados com você.
Eo filhotinho miou:
- Já estou descendo mamãe. Eu tenho um amiguinho preguiça muito bonitinho e legal. Ele está ali naquele pé de arueira. Os pais deles estão para chegar e moram no oco dessa umbaubeira onde você está. Pode esperar que eu já estou descendo.
Nem acabara de falar isso para a mamãe gata e o inesperado aconteceu. Repentinamente um grande gavião deu um voo rasante por cima da aroeira e com as garras poderosas catou o pequenino Zunzum.
Como já estava voando há muito tempo, à cata de comida, e ainda voava contra o vento, o gaviãoestava bem cansado, por isso parou para descansar um pouco, com a sua presa gritando e fazendo o maior esforço que podia para sair das grandes unhas do enorme e implacável predador, parando na copa da árvore onde estava o gatinho. Isso a menos de dois metros do bichano.
Naquele instante vendo, que seu novo e querido amiguinho Zunzum, estava correndo perigo e a qualquer instante podia ser devorado, Preferido reuniu todas suas forças e a coragem que tinha, envergou-se o quanto podia, levantou o pelo como se quisesse espetá-los em alguém, deu aquela rosnada de gato quando está bravo e num só bote pulou direto no pescoço do gavião.
Tão surpreso com o impacto daquele pequeno animal em seu pescoço, mordendo-o com muita força e com as quatro patas de unhas bem afiadas arranhando seu corpo, o gavião tentou reagir, mas sem nenhuma possibilidade de escapar.
Ferido, o gavião soltou o filhote preguiça rapidamente, abrindo as pernas e as unhas grandes.
Zunzum apesar da sua lentidão caiu, mas grudou-se no primeiro galho que encontrou.
Vendo que seu amigo estava a salvo, Preferido também soltou a sua presa.
O gavião sangrando por todos os lados, se debateu um pouco e saiu voando de forma capenga até que caiu logo adiante.
No chão, os pais de Zunzum que tinham acabado de chegar e a mamãe gata, assistiram tudo. A cena não demorou mais do que cinco minutos, o suficiente para ficarem mais do que surpresos pela força e a coragem do gatinho Preferido.
Zunzum e Preferido desceram da árvore e chegaram ao solo e seus pais se abraçaram. A mamãe gata estava orgulhosa e radiante pela coragem e força do seu filhotinho tão querido. Os pais de Zunzum não sabiam como agradecer aquela ajuda inesperada que salvara seu filhotinho.
Zunzum abraçou o seu amigo até com um pouco de lágrimas nos olhos e falou:
- Você não é e nunca foi feio. Você é o gatinho mais bonito que eu já vi. A sua bondade e o sua coragem fazem de você o gatinho mais lindo.
Ali no oco da umbaubeira, gatos e preguiças passaram a conviver como se fossem todos iguais e da mesma espécie e raça.
Os donos de Preferido, seus pais e seus irmãos nunca poderão entender o que aconteceu. Encontraram o gavião morto e perceberam que foi por outro animal, em virtude dos ferimentos no corpo e no pescoço e pegaram o animal e o levaram para casa, transformando-o num banquete para todos os animais.
Preferido e sua mãe não quiseram comer daquela carne. Ninguém entendeu o motivo dessa recusa. Os gatos e os bichos preguiças não tinham como contar como aquele gavião caiu morto ali e daquela forma.
O feio externo, na maioria das vezes, é belo internamente, pois a beleza está na alma de cada ser.
Os nossos defeitos físicos de nascença quase sempre foram da nossa escolha para aqui na Terra corrigirmos avarias do nosso passado comprometedor, objetivando nos aprimorarmos e crescermos com muita força de vontade, fé, coragem e perseverança.
Se um dia conseguirmos amar ao próximo independentemente da sua cor, raça, crença, religião, condição social ou econômica, e com seus defeitos físicose ajudarmos os mais necessitados, certamente estaremos galgando um degrau na escadaria que nos levará até Jesus e depois até o Nosso Pai Criador.








 
CLEMENTINO POETA E MÚSICO
Enviado por CLEMENTINO POETA E MÚSICO em 25/01/2012
Alterado em 07/09/2021
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